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sábado, 10 de novembro de 2007

Nelly Furtado fala sobre si própria

Quando a luso - canadiana tinha 19 anos escreveu este bonito texto (a tradução não é das melhores):

Eu fico impressionada quando as pessoas percebem que a música é importante, quando alguém faz a diferença, quando se é honesto consigo mesmo. E fico impressionada por Leonard Cohen, Antonio Carlos Jobim, Nustrat Fateh Ali Kahn, Woodstock, Free Tibet, concertos de graça para dezenas de centenas, Marvin Gaye, Bob Marley, De La Soul, bons filmes, arte visual, Andy Warhol, jazz, coisas improvisadas, artistas que quando fazem sua performance me fazem chorar, Jeff Buckley, ir a uma rave, escrever poesia sobre a cidade, 'tropeçar' num bom livro, viajar para um lugar novo no meio a completos estranhos... e a lista continua infinitamente. Eu sempre tive temor da natureza e de tudo que é inovador. Mesmo eu tendo crescido em Victoria, B.C., um mero subúrbio de uma cidade, eu sei o que é independência, eu sei o que é ter alma, eu sei o que é Deus.
Eu sei como você se sente quando canta no topo de uma montanha, como se Deus estivesse por perto. Canto desde os 4 anos tanto em português como em inglês, e toquei o trombone e o ukelele (o cavaquinho que os portugueses levaram para o Hawai) dos 9 aos 18 anos. Eu tocava o trombone numa banda de jazz, numa banda de concerto e em uma banda de marchinha, e cantava e dançava em musicais. Eu vi muitas coisas e cresci muito no pequeno período em que vivi em Espanha.Eu fui uma chata, eu fui chateada, fui precoce, fui insegura, me perdi, me achei de novo, fui elogiada, fui criticada, fiquei envergonhada, fui sozinha.
Eu não estou segura e nunca estive, mas a minha família é muito importante para mim. Eu sei me virar bem na rua, e frequentemente a minha dor impulsiona a minha paixão. Eu aspiro, como qualquer um, fazer grandes coisas com a minha vida. Eu quero ser Jack Kerouac, Mona Lisa, Ghandi e Madre Theresa, tudo ao mesmo tempo. Eu quero inspirar as pessoas, mas não de uma maneira convencional. Há um artista dentro de mim. Eu vejo arte em todo lugar que vou, eu acredito que nasci para cantar e criar música que se conecta emocionalmente comigo. Eu nasci para documentar a maneira como vejo o mundo, e as experiências que tive nele.
Considerando a minha herança musical, pareceu inevitável que eu iria atrás desse sonho musical. Em S. Miguel, Açores, meu já falecido avô português tocava diversos instrumentos. O irmão dele, meu tio-avô, era um famoso compositor e maestro de bandas das marchas populares, e até hoje permanece como um tipo de figura lendária para as pessoas da vila onde morava.
Até o dia de hoje, depois de sua morte, centenas de suas criações permaneceram trancadas no seu porão, apesar das tentativas de confisco por amantes da música da região. Minha mãe canta no coral da igreja e meu pai também gosta de cantar ocasionalmente e tem um grande interesse num estilo de música portuguesa chamado 'fado', ou 'destino'. Esses elementos e influências portuguesas são parte do que eu gosto de chamar de meu 'hard drive musical'. Eu recebi o meu primeiro gravador quando tinha 8 anos. Eu cantava no microfone e gravava as minhas próprias músicas. Eu recebi um teclado com efeitos embutidos quando tinha 11 anos. E eu já estava compondo rimas com 14 anos, mas isso foi uma fase que só durou alguns meses.
Eu sempre fui obcecada por música nova. Eu tenho 19 anos, então não posso dizer que as minhas influências são Pink Floyd e Kate Bush, porque eles não são. Eu nem tinha nascido ainda. Eu gostava de qualquer coisa sensacionalista e excessivamente alta. Era de uma certa maneira tão revigorante para os meus jovens ouvidos. Ice T, LL Cool J, Salt n Pepa, Bel Biv Devoe, New Edition, High 5, Jackson 5, Boyz II Men, Mariah Carey, Mary J. Blige, Pharacyde 'passin'me by', Del, Hieroglyphcs Crew, TLC, Janet, Word Up Magazine, qualquer tipo de rap e R&B, DL Quik, Young MC, Diggable Planets, Tribe Called Quest ou qualquer coisa em que eu conseguisse deitar as minhas mãos, fosse alguma coisa do rádio ou uma fita feita por um amigo. Prince fica vitalmente em algum lugar ali no meio.
Qualquer coisa que fosse criada usando equipamentos musicais, dos 14 aos 16 anos eu estava lá, atenta. A culminação dessas experiências ‘auditivas’ me levou à minha primeira gravação em um estudio, aos 16 anos, cantando a plenos pulmões verdadeiros vocais R&B para o grupo de hip-hop de Toronto de um amigo. Novas influências chegaram até a mim quando eu fui ficando mais velha e comecei a escutar o CD player do meu irmão mais velho. Eu também fui para Portugal nas férias de verão e me abri para influências do rock, como Radiohead, Smashing Pumpkins, U2, Pulp, Oasis e Sarah Maclaughlin. Depois veio a descoberta do Portoisehead, que o estilo teve um impacto significante no que eu escrevo e produzo desde então. Beth Gibbons é especialmente intrigante, com aquele estilo vocal diferente, que eu consegui imitar por um bom tempo.
Com essa onda de influências veio Madredeus, Sade, Pedro Abrunhosa, CornerShop, Amália Rodrigues, Tricky, Prodigy, Bjork, qualquer coisa brasileira, mas especialmente Bossa Nova, música Hindu, e techno. Durante esse período eu também descobri as colectâneas de 'hits' dos Beatles, e de Simon e de Garfunkel. Desse ponto em diante, a minha mente se abriu muito, e ela só se abre mais a cada dia que passa.
As músicas urbanas espalhafatosas dos anos 90 incutiram em mim um amor pelo hip-hop e tecnologia musical. Isso me ensinou como ser uma cantora audaciosa, e ter atitude. A onda posterior de influências me ensinou a ter paixão e ver o significado das coisas. Ela me ensinou como expressar emoção e melancolia, como escrever músicas com emoção, desenvolver o meu próprio estilo para as músicas, e como desenvolver uma assinatura vocal.
Todas essas influências e todas essas experiências de vida que eu tive inspiram o meu eu-lírico, isso tudo me completa, como pessoa e como cantora. Durante todas as minhas experiências de gravação eu mantive as músicas boas num lugar especial. Eu acredito no poder das palavras e no mistério de uma boa melodia. Afinal, o que é a música antes de você toná-la realidade?

Agradecimento:www.justnelly.com

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